O Ocidente perdeu o rumo

Artigo publicado em 21 de fevereiro de 2003

Jornal Estado de Minas

Seção Opinião, p. 9

Autor: Dr. Geraldo Magela S. Freire – OAB/MG 15.748

 

O Ocidente perdeu o rumo

 Geraldo Magela S. Freire

 

Advogado

O homem moderno se viu envolvido nas rápidas mudanças tecnológicas, assistiu o sonho socialista de justiça social despedaçar-se, por suprimir uma das essências da existência humana, a liberdade física, mental e espiritual, e se tornou volátil, ficando sem saber em que se agarrar, embora seja um bom profissional na sua especialidade, mas que, fora disso, ficou individualista e superficial, indiferente e permissivo, sem um projeto coerente de vida.

Em contundente crítica, o médico espanhol Enrique Rojas sustenta que a opulenta sociedade do Ocidente criou o homem light, de escassa formação humanística, que aceita tudo, sem critérios sólidos de conduta, porque envolvido pelo hedonismo – a busca do prazer acima de tudo; pelo consumismo – comprando, gastando e possuindo sem limites ou necessidade; pela permissividade -, inexistindo regras; e o novo código ético, o relativismo, conseqüência da permissividade. Nesse caso, qualquer análise pode ser positiva ou negativa, desembocando no ceticismo, que admite que a verdade é inalcançável, sendo a fome do absoluto impossível. É o reino do materialismo, sem referenciais, vivendo-se um grande vazio moral, que leva todos ao consumismo, e ao liberalismo, que dissolve todos os valores, como a espiritualidade, o sentido de família e o respeito pela vida. A sociedade ocidental perdeu o rumo. (O Homem Moderno, p. 13 ss).

A revolução política, levando ao poder um operário, depois de 500 anos de dominação elitista, enche nossos corações de esperança, entronizando o povo no comando da nação, é sem precedentes na história. Sinaliza que o povo acordou para exercitar seus direitos fundamentais básicos, para excluir todos os privilégios adquiridos, porque “A vida humana tem mais valor que o direito à propriedade” (Êxodo, Bíblia). Só assim se poderá construir uma sociedade mais justa, aberta, sem discriminação ou preconceito. Mas, isso não é suficiente, porque não indica um prognóstico final mais feliz, porque nem só de pão se vive. Não existe progresso sem base ética e respeito à moral. E esta pressupõe humanismo e transcendência.

Por isso, precisamos sair do ceticismo. Indignar-se com as cenas caóticas de determinado meios de comunicação, sem os quais não há democracia, mas que precisam ser direcionadas não para o sexo sem limites, submetendo todos somente “aos desejos da carne, obedecendo aos caprichos do instinto e da imaginação” (Efeso, Bíblia, 2,3), para a pornografia, drogas, concursos vulgares. A mídia eletrônica deve divertir, mas sobretudo, educar e estimular valores positivos, com liberdade, mas sem sacrificar a ética e os valores humanos básicos, nos quais se assentam os interesses e as expectativas da grande maioria da sociedade. Porque “A instância socializadora de valores mais poderosa é a mídia. E esta termina por gerar a mais absoluta confusão nesse mundo. Corrói os códigos mais venerandos.”, como anota o teólogo João Batista Libânio (As Lógicas da Cidade, p.178). Correto, pois, que os grupos de direitos humanos, em defesa da infância, dos valores da família e da cidadania, devem exigir uma regulamentação eficaz, tudo sem censura, discriminação ou preconceitos. É sagrado nosso compromisso para garantir o direito de informação e expressão, como determina a constituição Federal e a Carta das Nações Unidas.

Reagir contra isso, aceitando as transformações que visam inserir na sociedade os direitos das minorias é progresso, é expansão. Nada fazer é abandonar a esperança de mundo melhor e admitir que o caos imposto por uma minoria “não resolvida”, desajustada, deve continuar. Resta-nos sair da omissão, e fazer outras revoluções além da revolução política já realizada.

(Jornal Estado de Minas em 21 de fevereiro de 2003, Seção Opinião, p. 9)