Home Office: expectativa versus realidade de trabalho da mulher contemporânea

Nos dias atuais uma das palavras que mais ouvimos é: home office ou trabalho remoto. Em conversa com mulheres em grupos de redes sociais e algumas sócias do escritório, dividimos a dor e a doçura de ser mulher, dona de casa e profissional dedicada nos dias de hoje.

Trabalhar fora de casa já é termo em desuso, visto que em tempos de pandemia existe certa necessidade de confinamento. A dificuldade para nós, não está em trabalhar, entregar ou cumprir metas, pois isso, para nós que já estamos acostumadas com as multitarefas impostas pelo nosso dia a dia, é moleza.

O grande desafio na visão geral é conseguir equilibrar o trabalho profissional que está sendo exercido pela maioria de nós dentro de casa, com as atividades domésticas e familiares.

Neste novo formato de trabalho há uma somatória de atribuições e responsabilidades, onde tudo acontece simultaneamente. Com tantas demandas, as mulheres acabam tendo mais dificuldades de concentração.

Na nova perspectiva, surge uma necessidade de destaque, que se traduz conseguir transformar a casa em ambiente de trabalho, ambiente este que não estava estruturado para esta tarefa. Configuração que notoriamente não é simples, nascendo então um cenário de múltiplas funções.

Os aludidos comentários das sócias Glenda Silva Freire e Lamara Vieira Pessotti trazem como exemplo a aplicabilidade e vivência nesse novo formato de trabalho:

“No meu caso com um bebê de um aninho e outro de três anos, a coisa toma uma dimensão ainda maior. Confesso que tentei bravamente trabalhar em casa. Mesmo com uma ajudante dedicada para olhar os meninos, é difícil concentrar nas tarefas do escritório enquanto ouço gritos vindos da sala. A ajudante até tenta, mas a partir do momento que eles sabem que a mãe está em casa, dão um jeito de nos achar. As tarefas não param de chegar: um ingrediente que falta para o almoço, um tombo seguido de um grito e uma ligação de um cliente precisando de uma consultoria urgente! Ah, chega! Preciso admitir que home office, definitivamente não é para mim (informação verbal¹).”

Glenda Freire

“O home office trouxe um misto de ônus e bônus, que embora seja tarefa árdua, não sei se gostaria de voltar a exercer a advocacia fora de casa na minha atual realidade. Antes da necessidade de home office, eu atendia um escritório fora da cidade, então esse novo formato me beneficiou quanto ao deslocamento. Mas, atuando em casa o trabalho triplica. Ainda não possuo filhos, mas exerço múltiplas funções ao mesmo tempo: é uma consultoria prestada aqui, uma comida feita ali, cliente chama daqui, roupa sendo lavada ali, e por aí vai. Ademais, as pessoas que sabem que estou trabalhando em casa pensam que “estou em casa” e esquece do “trabalhando”, então pedem favor o tempo todo. Hoje, não tenho escolha, o escritório a que presto serviço encontra-se fechado. Mas, atualmente, ainda com as dificuldades escolheria estar em casa (informação verbal ²)”

Lamara Vieira

Através de análise e discussão, além das experiências supracitadas, percebemos que há dois resultados advindos deste novo cenário:por um lado, o novo formato oportunizou um percentual pequeno de mulheres à prática do trabalho remoto; Por outro, mostrou que o home office pode cobrar um preço muito maior das mulheres.

Desta forma, se pararmos e analisarmos a história tempos atrás, conseguimos enxergar onde está a raiz dessa sobrecarga, pois antigamente, apenas homens trabalhavam fora de casa para trazer dinheiro e quem cuidava da casa e dos filhos eram as mulheres,mas hoje, as mulheres também saem para trabalhar, dividindo a tarefa de trazer dinheiro para a casa. Contudo, as tarefas do lar não foram divididas com isonomia.

Seria este um retrocesso temporário, na conquista das mulheres de sua independência e espaço no mercado de trabalho?

As mulheres ficaram impedidas de exercer o direito à separação entre o momento do trabalho remunerado (Office) e o momento do não remunerado (Home), tendo em vista que obrigatoriamente exercem ambas as atividades simultaneamente. Soma-se a isto o fato de perda da cultura da empresa, do convívio com os colegas de trabalho, da troca de experiências no ambiente de trabalho, entre outros.

Mas, em contrapartida, o home office proporciona uma série de outros benefícios:

  1. Redução da perda de tempo no trajeto casa-trabalho;
  2. Aumento da qualidade de vida, pois o trabalho em casa tem um cenário mais amigável, mais leve, propiciando pequenos benefícios como almoçar em casa, aumento da convivência com a família e filhos;
  3. Aumento da qualidade do trabalho, pois um ambiente favorável propicia o ganho de eficiência.

Sendo assim, por um lado, é possível observar que o home office ou trabalho remoto agravou a desigualdade ao transferir para casa o trabalho que era desempenhado nos escritórios, trazendo excesso de tarefas e de cobranças para a mulher contemporânea.

Mas, de outro ponto de vista, ultrapassados os obstáculos naturais, pode-se ganhar em eficiência e em qualidade de vida.

Pode-se concluir, assim, que os benefícios e prejuízos do trabalho em home office para a mulher contemporânea podem variar de uma pessoa para outra. Talvez (apenas o futuro saberá dizer), o melhor formato seja um misto entre o trabalho na empresa/escritório e o trabalho em casa.

¹ Fala da sócia Glenda Silva Freire em conversa em grupo, março de 2021.

²Fala da sócia Lamara Vieira Pessotti em conversa em grupo, março de 2021.