Geraldo Magela S. Freire
Advogado da Silva Freire Advogados
Artigo publicado no Jornal Estado de Minas de 05 de fevereiro de 2014, p. 9.
Está ainda em tempo de o governo e os políticos fazerem uma reflexão séria e tomar atitudes com relação aos protestos de junho de 2013. Ou todos sofreremos com os eventos tanto esperados, Copa de Mundo e eleições. A polícia foi incompetente – e tornará a sê-lo, usando a violência e não sabendo prender os vândalos que saqueiam, depredam o patrimônio público e particular. E o pior: a Copa do Mundo será transmitida para mais de um bilhão de pessoas e uma nova imagem do país será construída para melhor ou pior. O dr. G. Le Bom, na exegese da Revolução Francesa, anotou que quem fez a revolução foram os agitadores: «Acarreta-se facilmente um punhado de homens, que saqueiam, destroem ou massacram, mas, para sublevar um povo inteiro, ou pelo menos grande parte desse povo, é necessária a ação repetida dos agitadores. Essas ideias germinam, propagam-se por sugestão e contágio, e chega o momento em que a revolução está preparada. Desse modo se organizaram a revolução cristã e a Revolução francesa.» (A revolução franceza e psychologia das revoluções, Livraria Garnier, Rio de Janeiro/Paris, 1922, p. 9, ortografia da época).
Os movimentos sociais de protesto continuam a florescer em todo o mundo, alguns com características definidas. Outros, sem. Mas todos acabam generalizando para todas as insatisfações. Exercitam a cidadania para que seus direitos sejam respeitados e combatem principalmente a corrupção por onde o seu dinheiro vai sendo desviado rotineiramente. Esses protestos espontâneos e sem chefes, convocados pelas redes sociais, desnorteiam os governos, que não sabem como decifrá-los e como aplacar a ira dos protestantes.
Por isso, não vão parar porque não têm uma causa definida. São todas e sem solução a curto prazo. Vejam só o caos que a televisão mostra quase diariamente nos transportes públicos em São Paulo e Rio de Janeiro. As causas continuam e os políticos não se emendam. Os excessos da polícia agravam a situação. Os políticos que degradam os valores morais do país seguem a lição antiga de que «não se pode garantir o poder senão buscando poder e ainda mais poder».
Samuel Huntington, analisando as sociedades em transformação, diz que, nas sociedades que experimentam transformações rápidas, a demanda por serviços públicos, cresce mais que a capacidade dos governos de satisfazê-la. E há outras demandas pontuais em cada país, salientando a corrupção no Brasil. E, por isso, os protestos vão continuar, trazendo turbulências políticas, podendo, também, se transformar em uma força positiva que impulsiona o progresso, especialmente com as mudanças pretendidas.
Quem faz a revolução não são os acomodados. Mas os incendiários, como na Revolução Francesa. O povo descobriu que seu dinheiro furtado está fazendo falta principalmente na saúde, nos transportes públicos, especialmente, onde se instalou o caos, e em outros setores essenciais à sobrevivência e ao exercício da cidadania. Não quer ser apenas espectadores nesse processo de degradação a que os políticos levaram o país, mas ser ator e participante. Justiça social só se atinge com respeito aos direitos fundamentais e sociais dos cidadãos, com transpores públicos descentes, assistência à saúde, com eleições limpas, combate permanente à corrupção, boa aplicação do dinheiro público, sem impunidades. A impunidade no Brasil só leva para a cadeia ladrão de botijão de gás e de galinha. Como disse um senador da República, o rico conhece a Justiça e o pobre a polícia. A espiral de violência pede o fim da impunidade e ética na política. A agenda das ruas, que constam nas redes sociais, poderá incendiar o país. Tudo vai depender das providências tomadas pelos governos.