O santo e a justiça dos homens

2000 – 04/09/2000 – 15

O santo e a justiça dos homens

Artigo publicado em 04/09/2000, Jornal Estado de Minas, Seção Opinião, p. 15

Autor: Dr. Geraldo Magela S. Freire – OAB/MG – 15.748

 O santo e  a justiça dos homens

“JESUS CRISTO

PATROCINOU A MAIOR

das causas, a da

redenção da

humanidade…”

GERALDO MAGELA S. FREIRE *

Dois advogados saem juntos e vão almoçar. No meio da refeição, um vira para o outro e

reclama:  “Puxa a vida, esquecemos de trancar o cofre do escritório”.

O outro responde: “Não se preocupe, estamos os dois aqui”.

Esse foi o  “e mail” que recebi de um “mui amigo” no dia do advogado(11 de agosto).

À noite, na missa das sete, o novo padre falava sobre Santo Afonso, que teria abandonado a profissão de advogado porque só via os justos serem condenados, enquanto os corruptos estavam soltos.

Seria o caso de o médico abandonar a medicina porque não conseguiu debelar a doença?

Na realidade, ele não queria atingir a profissão, foi o chamado espiritual, diante da nossa fraqueza e da fragilidade da justiça humana.

Quando nasceu Santo Afonso “o mundo já estava vivendo o século das luzes, com a plena liberdade da deusa razão, num desejo incontido de desenvolver todas as capacidades humanas.”,  esclarece Manuel Gomez Rios.

Aos vinte e sete anos, o advogado Afonso conheceu a primeira derrota no foro.

A família Orsini, cujos interesses patrocinava, havia sido ilegitimamente despojada do feudo de Amatrice, que lhe pertencia por herança direta de Alexandre, por falta de pagamento dos impostos, quando outras medidas poderiam ser tomadas, à época, menos a perda do título de posse.

O desfecho da liça era esperado por toda a nobreza de Nápoles.  O feudo acabou sendo entregue aos Médici.

Um mês antes do final do processo, Afonso tomou conhecimento que o vice rei da Áustria  e outras autoridades, incluindo-se seu mestre doutor Caravito, haviam sido subornadas com régios presentes.

Percebendo o mar de lama que o rodeava, o “mundo hipócrita”, abandonou a advocacia, indo ao encontro de Jesus Cristo, que patrocinou a maior das causas  – a da redenção da humanidade  –  aderindo à sua verdadeira vocação, procurando a pobreza e o sofrimento no Hospital dos Incuráveis.

Não foi o fato da derrota que afugentou Santo Afonso, porque ele sabia que uma das lições deixadas por Jesus Cristo é a de que temos que nos acostumar com o perde e ganha diário, sacudir a poeira e dar a volta por cima.

Ademais, ele sabia que o advogado é aquele que é útil aos juízes, para os ajudar a decidir de acordo com a justiça dos homens;  e útil ao cliente, para fazer valer as suas razões, como anota Piero Calamandrei.

Finalmente, como ensina o saudoso Ruy de Azevedo Sodré:

“Sem a intervenção do advogado não há justiça; sem justiça, não há ordenamento jurídico e sem este não há condições de vida para a Pessoa Humana.”

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*Advogado – Membro da Comissão de Defesa do Consumidor da OAB-MG