Consumidores lesados por Empresa de rastreamento

PREJUÍZO

Jornal Estado de Minas, Caderno de Veículos, 13/02/2008

Sem contato nem amparo

Empresa de rastreadores via satélite quase fecha e deixa proprietários de veículos na mão. Funcionários somem e telefones não atendem. E-mail é a esperança que resta
Paula Carolina

 

Euller Júnior/EM
Rodrigo gastou mais de R$ 3 mil e tem quatro carros monitorados pela Crown Telecom

Desde novembro, o empresário Rodrigo Aguiar tenta, em vão, entrar em contato com a empresa de rastreadores Crown Telecom, da qual adquiriu quatro equipamentos para monitoramento de parte da frota de sua empresa de locação e transporte. “Não conseguimos mais falar no 0800 da Crown, nem no telefone em Belo Horizonte, que é a sede, e nem em São Paulo. Antes conseguíamos acompanhar, via internet, o monitoramento dos veículos, mas, de novembro para cá, também não temos mais acesso”, diz. “Gastamos em torno de R$ 3,2 mil para ter esse serviço e não obtivemos mais retorno. Além disso, havia um desconto no valor do seguro em virtude do rastreador. Provavelmente, vou perder este desconto e ter que pagar mais caro pelo seguro”, acrescenta. Rodrigo adquiriu os rastreadores dentro de uma concessionária Volkswagen, no tempo em que havia contrato entre a montadora e a empresa.

 

De fato, os telefones fixos e de atendimento ao consumidor (0800) não mais funcionam. O site da empresa continua no ar, mas diversos outros proprietários de veículos que adquiriram o produto relatam também não conseguir mais acesso ao monitoramento via internet por meio da senha exclusiva que tinham. Nas revendas Volkswagen de Belo Horizonte, também não se tem mais notícia dos funcionários da Crown Telecom que, durante alguns meses de 2007, trabalharam nas revendas numa espécie de parceria. A Crown tinha um contrato com a montadora alemã, que chegou a disponibilizar o equipamento de série em toda a sua linha de veículos. O consumidor comprava o carro e ativava o serviço diretamente com a Crown, por meio de um funcionário que ficava nas concessionárias VW. Há relatos, inclusive, de que diretores de revendas que teriam posto o equipamento em seus veículos ficaram também sem contato, já que os funcionários “sumiram” depois do rompimento do contrato.

FIM Um dos motivos, inclusive, que teria influenciado na derrocada da empresa seria exatamente o fim do contrato, rompido pela Volkswagen, sem explicação concreta. A montadora deixou de oferecer o rastreador como equipamento de série a partir de 15 de junho de 2007, mas comunicou apenas que a “decisão foi tomada em razão de uma mudança na estratégia de oferta do serviço, a fim de melhor atender os consumidores”. Para quem já havia adquirido o carro com rastreador de série e ativado o serviço, a montadora informou: “O fim da oferta do rastreador como item de série não poderá causar qualquer prejuízo aos clientes que já decidiram pela ativação do serviço. Esses consumidores poderão continuar usufruindo normalmente do rastreamento, conforme rege o contrato celebrado diretamente entre eles e a operadora Crown Telecom”.

Consultada, a empresa confirmou estar passando por problemas, mas afirmou ao ESTADO DE MINAS que não vai fechar. De acordo com a empresa, houve enorme prejuízo depois que a Volkswagen rompeu o contrato e, agora, a Crown está sendo reestruturada, com redução do quadro de funcionários pela metade. Outra informação é de que a Crown Telecom passa por processo de fusão com outra empresa, cujo nome ainda não pode ser revelado. Enquanto isso, consumidores podem entrar em contato pelo e-mailmonitoramento@crowntelecom.com.br para cobrar prejuízos ou fazer qualquer outra reclamação.

LEI Conforme o advogado Geraldo Magela Freire, presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seção Minas Gerais, caso os consumidores fiquem, de fato, desamparados pela empresa, nas situações em que o produto foi adquirido por meio da parceria que existia com a VW, tanto a montadora quanto a concessionária que vendeu o carro com o rastreador respondem solidariamente pelos prejuízos, podendo ser acionadas judicialmente. Já para os consumidores que compraram o equipamento diretamente da Crown Telecom, a situação fica mais complicada, uma vez que, comprovada a falência da empresa, não valeria a pena acioná-la na Justiça, pois sua execução demoraria anos. A Volkswagen foi também questionada em relação à responsabilidade, mas não retornou a ligação até o fechamento da edição.