Jesus de Nazaré

Artigo publicado em 09/04/2004

Jornal Estado de Minas

Seção opinião, p. 7

Autor: Geraldo Magela S. Freire – OAB/MG 15.748 

 

     JESUS DE NAZARÉ

Geraldo Magela S. Freire

Advogado – Diretor da União dos Juristas Católicos

Como compreender que a morte pode ser fonte de vida e de amor, como ensina Cristo, o novo Adão?  Onde encontrar resposta para as questões como a dor, o sofrimento do inocente, a morte? O Papa João Paulo II, em sua Carta Apostólica “Salvifici Doloris” (O sentido cristão do sofrimento humano, ed. Paulinas), diz que o sofrimento humano, com ou sem culpa, é inseparável da existência terrena. O saudoso Alceu Amoroso Lima ressalta que “A vida é uma contínua ondulação entre mortes e ressurreições. Entre altos e baixos. Vitórias e derrotas.” (Tudo é Mistério, Vozes, p. 84). Ou seja, a vida é um perde ganha diário.

A existência humana é um mistério. A História chega ao Oriente Próximo e à China. Além de cinco mil anos, só desenhos em grutas e algumas imagens de fecundidade. A origem do homem situa-se fora de nossa observação. Não sabemos o que precede e o que sucede a vida humana. Tudo é fugaz e provisório. O que levou Teilhard de Chardin lembrar que o homem não foi feito à imagem e semelhança de Deus, mas para ser sua imagem e semelhança.

É por isso que o homem sempre se interroga, numa busca infindável, principalmente quando se aproxima o crepúsculo da vida, tão inseguro, porque  “A noite traspassa meus ossos, consome-os, e os males que me roem não dormem.” (Jó 30, 17-18). E  “Porque o destino dos filhos dos homens e o destino dos brutos é o mesmo: um mesmo fim os espera. A morte de um é a morte de outro. A ambos foi dado o mesmo sopro, e o homem não tem vantagens sobre o bruto…Realmente, tudo é vaidade!”  (Eclesiastes 3, 19-20)

Após as infidelidades dos homens, Deus mandou ao mundo vários fachos de Luz.  A nossa Luz nasceu na penumbra do mal e do sofrimento e chama-se Jesus Cristo, que veio para nos indicar uma nova trilha, abrindo-nos uma possibilidade concreta de justificar nossa existência, de encontrar um sentido para o vazio da vida, de partilhar o nosso destino, objetivando uma existência pessoal mais digna e gratificante, se dimensionada para o próximo, porque “Apenas Deus concretiza a utopia humana”, como anota Leonardo Boff (“Do lugar do Pobre”, Vozes, p.82).

“A suprema tarefa que Deus propôs à humanidade, ao conceder ao homem o trágico privilégio da liberdade, foi a de colher a alegria na própria árvore do sofrimento”, como lembra o citado Alceu (ib., p.191). E Boff diz que todos nós carregamos uma cruz no coração ou nas costas. E que temos que vivê-la não como tribulação, mas como libertação, porque a cruz humana está dimensionada para o infinito (A cruz nossa de cada dia, ed. Verus, p. 7).

O cristianismo ensina que a existência é essencialmente um bem, sendo o mal (representado pela morte, pela doença, pelo sofrimento etc) uma distorção do bem pelo mal uso da liberdade. Se ao mal moral do pecado corresponde o castigo é porque a consciência moral da humanidade exige uma pena para a transgressão, para o pecado e para o crime. Mas existe também o sofrimento sem culpa, como se apura no Antigo Testamento com a figura do justo Jó. “Jó não foi castigado, porque inexistia razão para lhe ser infligida pena”, mas submetido a uma dura prova.

Agora, na Semana Santa que vivemos, temos a maior justificativa, o sentido de tudo, porque Cristo sofreu voluntária e inocentemente, sem nenhuma culpa, para que o homem “não pereça”, “mas tenha a vida eterna.”. É o Eterno que entra no tempo, através de Jesus de Nazaré, que, por sua Paixão, Morte e Ressurreição, carrega sua cruz para libertação de todos nós.

(Jornal Estado de Minas, 09/04/2004, seção opinião, p. 7)