O voto é a arma do povo

Artigo publicado em 02 de setembro de 2002

Jornal Estado de Minas

Seção Opinião, p. 7

Autor: Dr. Geraldo Magela S. Freire – OAB/MG 15.748

     O voto é a arma do povo

 

Geraldo Magela S. Freire

Advogado

A barragem Santa Lúcia foi construída com o objetivo de conter as águas que inundavam a Avenida Prudente de Morais, que resultou infrutífera, indicando a necessidade de obras na avenida. Então, desde a saída do Prefeito que a inaugurou, a barragem passou a contar permanentemente com uma construtora no seu interior, quando era enchida e esvaziada, sucessivamente. Assim foi até que o Prefeito Patrus Ananias terminou as obras e deu-lhe destinação social, com o que ofereceu espaço esportivo e de lazer para os moradores da favela próxima e para os demais moradores da redondeza, que convivem em harmonia dentro do mesmo espaço. Parou, então, o sangramento do erário municipal.

Lembram-se da Avenida Álvares Cabral, dos quarteirões que vão da Avenida Olegário Maciel até a Avenida Bias Fortes? O canteiro central foi levantado, depois abaixado, e depois diminuído, sem nenhuma razão. Por que? E assim aconteceu com várias outras obras públicas, realizadas sem nenhuma indicação social, mas com o objetivo de entregar o nosso dinheiro às construtoras que financiam as campanhas políticas.

A nação está esperando a hora de votar para escolher presidente, governador, senador, deputado federal, deputado estadual. Não pode ser qualquer um. Temos que escolher um candidato voltado para os pobres e excluídos, que trabalhe pelo bem comum e conheça as necessidades reais do povo. Não precisa ter diploma, ser técnico, erudito ou sábio, porque destes estamos cansados. Basta ser um lavrador diligente que saiba preparar a colheita para os famintos de comida, de saúde, de escola; e, principalmente, que não deixe a chave do erário à vista dos ladrões de colarinho branco. Assim sobrará dinheiro para obras essenciais ao desenvolvimento eqüitativo.

Quem você acha que vai priorizar saúde e educação? Quem irá valorizar a escola do sonho de Anísio Teixeira e os hospitais públicos? Ou você acha que um médico deve receber R$ 3 do Sistema Único de Saúde (SUS) por uma consulta? Você já esteve, pelas madrugadas, nos pronto-socorros dos hospitais conveniados com o SUS, vendo como os pobres são (des)atendidos; viu seus sofrimentos, esperando horas a fio por um tratamento de urgência? Sabe como os servidores desses postos são mal remunerados e desassistidos? Nós, das classes mais favorecidas, tomos os “Madre Tereza”, os “Mater Dei” e os “Biocor” da vida; eles não. Quem vai valorizar o trabalho em vez de tudo permitir ao capital especulativo? O Papa Leão XIII, nos idos de 1891 com a encíclica Rerum Novarum, já pregava que a prioridade é o trabalho e não o capital.

Quem vai fortalecer a empresa nacional, afastando os juros extorsivos, porque sem empresas fortes não se conseguem gerar empregos com salários dignos? Como  os trabalhadores que recebem pífios salários vão poder adquirir as “maravilhas” da produção moderna? Henry Ford dizia no início do século XX: “Quero que todos os meus empregados tenham um carro que ele mesmo constrói na minha fábrica”. Ou você prefere a continuação da teoria dominante, de que é preciso primeiro fazer o bolo crescer para depois dividir, como pregam os doutores de Harvard, Princeton etc?

Precisamos de financiamento externo, mas sem entregar a soberania do País ou vender a alma ao diabo.

No plano Estadual, nunca Minas foi tão desprezada e abandonada. Então, qual a liderança nova que desponta, com trânsito em todas as camadas sociais, com genética paterna e materna conhecidas, que não tem mancha e que tem condições de elevar o nome de Minas, restituindo-lhe a importância e peso que sempre desfrutou no cenário político nacional, na linhagem dos grandes políticos mineiros, como Juscelino Kubitschek e Milton Campos, Tancredo Neves e Tristão da Cunha, Pedro Aleixo e José Maria Alkmin? Se não soubermos usar o voto como arma do cidadão, resta-nos aguardar a vinda do Salvador para implantar a justiça social, porque nestes 2 mil anos esqueceram tudo que Ele ensinou.

(Jornal Estado de Minas em 02 de setembro de 2002, Seção Opinião, p. 7)