O aumento dos custos de produção com combustível, além do corte de financiamentos, são alguns fatores que agravam a crise no setor do transporte de cargas em Mato Grosso. No estado mais de 30 empresas já entraram na Justiça com pedidos de recuperação judicial. O passivo de tais empresas em geral gira em torno de R$ 25 milhões a R$ 35 milhões.
Entre janeiro e setembro, Mato Grosso registrou 103 pedidos de recuperações judiciais requeridos e 103 solicitações deferidas. Isso significa um aumento de 202% e 221% de demandas em comparação aos 34 e 32 pedidos feitos, respectivamente, no período em 2014, de acordo com informações do Serasa Experian.
De acordo com o advogado especialista em recuperação judicial Euclides Ribeiro Junior, do Grupo ERS Advocacia, em seu escritório há 15 empresas que atuam no ramo de transporte de cargas que entraram com pedido de recuperação judicial. Ele revela que destas sete solicitaram em 2015.
O especialista explica que a liberação de crédito abundante, feita através do BNDES, para compra de caminhões com até 100 meses de prazo para pagar, além de um ano de carência e juros que chegaram a 2,5% ao ano, foi o principal fator para o momento vivido pelo setor do transporte de cargas.
A medida foi tomada pelo governo federal em meados de 2013 para ajudar a indústria automobilística, criando assim um ambiente de alta demanda por caminhões, levando a maioria das transportadoras brasileira a comprarem caminhões além do que podiam.
“O resultado dessa intervenção governamental em um mercado que estava razoavelmente equilibrado fez com que o Brasil tenha hoje quase 30% da sua frota de caminhões ociosos. Com isso, as grandes multinacionais e mesmo indústrias nacionais contratantes de transportes baixaram os preços ofertados no frete em mais de 30%, criando assim a maior crise que o setor de transportes já vivenciou na história do Brasil”, pontua o advogado especialista em recuperação judicial Euclides Ribeiro Junior.
Conforme o especialista, a crise econômica é outro agravante, o que levou o país a entrar em uma brutal recessão. Outro fator foram os constantes aumentos do combustível, mais precisamente o óleo diesel. No dia 29 de setembro a Petrobras elevou nas refinarias em 4% o preço do óleo diesel. Este foi o quinto aumento anunciado pela Petrobras em 2015. De acordo com o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis de Mato Grosso (Sindipetróleo-MT), somando os cinco reajustes de janeiro a setembro a gasolina subiu R$ 0,42 nas distribuidoras, um aumento de 15,91%. Já o óleo diesel R$ 0,29, alta de 14,17% nas distribuidoras.
Entre as empresas que pediram recuperação, segundo Ribeiro, estão às transportadoras: Expresso Flecha de Prata, RDL Transportes, Grupo 3 Américas, Transportadora Novo Futuro, Transabino. Algumas atuam em Mato Grosso como a RDL e a Nova Futuro e outras têm filiais no Estado.
Agropecuária
Na agropecuária não está diferente, conforme Clovis Sguarezi, da Sguarezi & Vieria, advogado que também atua em Recuperação Judicial.
Segundo Clovis, a demanda de pedidos de recuperação judicial por parte de produtores rurais também deve aumentar diante os repasses do custo de frete e, principalmente, pela dificuldade de obtenção e pagamento dos créditos para a safra 2015/2016.
Clovis revela que em seu escritório a demanda por pedidos de recuperação judicial cresceu 70%. “O crédito deve ficar escasso e caro no próximo ano, e estamos notando em viagens pelo interior, que os produtores têm buscado acessar a recuperação judicial para manter suas fazendas e os empregos gerados”.
Fonte: olhardireto.com.br