Belo Horizonte, 26 de maio de 2010
Veja abaixo reportagem do Jornal Estado de Minas referente à ação patrocinada pela Silva Freire Advogados, cujo objeto é uma Ferrari F-430 de mais de 1 milhão de reais.
Gato por lebre – Uma Ferrari na contramão
Sandra Kiefer – Economia/Estado de Minas
Empresário mineiro adquire carro dos sonhos em concessionária de São Paulo, por mais de R$ 1 mi, e descobre que automóvel já havia sofrido acidente grave. Caso será julgado hoje
Fotos Jair Amaral/EM/D. A Press
O sonho de consumo de ter uma Ferrari vermelha de R$ 1 milhão acabou no tribunal. O empresário Leonardo Pereira Furman, de 33 anos, dono do Shopping Xavantes, participa hoje da primeira audiência de conciliação com a Via Itália, de São Paulo, autorizada da Ferrari no Brasil. A importadora, que já perdeu em todas as decisões anteriores, é acusada de repassar para o empresário um automóvel já batido, oferecido como semi-novo. Em 2007, o carro envolveu-se em grave acidente protagonizado por João Luiz Raiza, sócio de Fábio Luiz da Silva, filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com a placa FJL 0430, é possível assistir no YouTube ao vídeo que mostra o carro danificado e o cinegrafista sendo agredido pelo então proprietário.
Na ação, que corre na 20ª Vara Cível do Fórum Lafayette, de Belo Horizonte, Furman quer recuperar os R$ 150 mil em dinheiro dados de entrada na transação (além de um Porsche, um jipe e uma BMW). Ele ainda conseguiu bloquear, por meio de liminar, os R$ 550 mil restantes, que seriam pagos em cheque à concessionária. Ao todo, a Ferrari iria custar R$ 1,170 milhão. «Nós conseguimos a liminar um dia antes de entrar o primeiro cheque. Mas o Leonardo só está tendo gastos com este carro. Só de IPVA, pagou R$ 37.886,58. As duas revisões custaram em torno de R$ 5 mil, cada uma», conta o advogado dele, Geraldo Magela da Silva Freire.
Furman, sobrinho da socialite de mesmo sobrenome, tomou a decisão de manter o automóvel parado até sair a perícia judicial. Decidiu expor o carro no shopping de produtos populares, como forma de atrair clientes para as promoções, como por exemplo o sorteio do Fiat Uno, realizado no último Natal. Ele conta que, após enfrentar graves problemas de saúde, resolveu realizar o sonho de comprar uma Ferrari no ano passado. «Ao chegar na concessionária, estava negociando o carro quando o vendedor piscou para o dono e disse que iria me oferecer aquele carro. Disse que o carro tinha apenas um arranhaozinho no para-choque», revela. Em vez dos usuais R$ 1,8 milhão, a Ferrari sairia por R$ 1,2 milhão.
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Ao pilotar a Ferrari, Furman desconfiou que havia algo de errado com o carro. «Fiz uma viagem de teste a São Paulo e o automóvel soltou a pinça de freio. Na outra, deu uma pane elétrica. Ainda bem que não forcei demais a velocidade, se não, poderia ter morrido», diz. Ao perceber os defeitos, o empresário achou melhor por o carro à venda. «Foi quando a concessionária de São Paulo jogou a placa no sistema e detectou a batida em que havia se envolvido. O carro entortou todo atrás. Quando comprei, porém, disseram que o carro tinha procedência e me deram certificado de garantia», explica.
Ao encomendar uma perícia particular, Furman descobriu que o carro já tinha sido batido, possivelmente com perda total. Segundo ele, havia chapas emendadas na traseira e os pneus estavam gastos de forma irregular. «Quero provar que fui lesado pela única representante da Ferrari no Brasil. Faltou transparência na negociação. Estou até evitando andar com o carro para evitar riscos desnecessários e prejudicar a perícia judicial», afirma ele, que diz ter tentando entrar em acordo com a concessionária antes de apelar para a Justiça. «Eles disseram que iriam devolver metade do dinheiro que eu já havia pagado. É brincadeira», completa.
A reportagem do Estado de Minas tentou ouvir a Via Itália, que informou que iria se pronunciar por intermédio do advogado Abraão Miguel Jorge – que não havia dado retorno até o fechamento da edição. Segundo Silva Freire, a Via Itália tentou fazer com que o processo corresse em segredo de Justiça, mas não conseguiu. Dentre os seis incidentes processuais provocados pela importadora, a concessionária tentou também requisitar a devolução do veículo e ainda a transferência do processo para São Paulo. As decisões, porém, foram todas favoráveis ao proprietário da Ferrari. «Comecei a trabalhar aos 12 anos nas lojas da minha mãe e, aos 15 anos, montei um estacionamento que depois transformei no Xavantes (ele é também dono das agências de modelos Black e Mega Models). Caí na besteira de querer ter um carrão bacana que, até hoje, além de atrair inveja, só me deu problema na Justiça», desabafa Furman, que dirige hoje um modesto Toyota Corolla, avaliado em R$ 70 mil.