A nova família

Artigo publicado em 24/01/2003

Jornal Estado de Minas

Seção Opinião, p. 9

Autor: Dr. Geraldo Magela S. Freire – OAB/MG 15.748

 

A NOVA FAMÍLIA

 

Geraldo Magela S. Freire

Diretor da União dos Juristas Católicos

 

Algum tempo atrás, desfrutava-se de harmonia e tranqüilidade, porque “os valores sustentavam-se em pedestais firmes, protegidos pela argamassa da tradição. Esta criava o imaginário ético em que as pessoas passeavam. Assim a sociedade se sentia firme e todos tinham um ponto de referência nítido.”, diz o teólogo João Batista Libanio no livro As Lógicas da Cidade. Vieram, então, os anos 60, quando emergiu os direitos das minorias. Desde então o conceito de família está sendo transformado, com a inserção de um ingrediente novo chamado “liberdade total”. E uma nova família está nascendo, que para ser melhor, deve observar princípios éticos e a dimensão espiritual. Antes predominava a família patriarcal quando prevaleciam os interesses do chefe sobre as legítimas aspirações dos outros membros, como observa Michelle Perrot em sua obra O Nó e o Ninho.

O Papa João Paulo II manifestou preocupação diante da “ameaça de dissolução do núcleo familiar”, na visita que lhe fizeram recentemente os Bispos brasileiros. Pergunta-se: que adulto resultará das crianças e jovens que ficam mais de quatro horas diárias à frente da televisão permissiva com seus ídolos de barro? De pessoas se acariciando a todo tempo, com cenas de sexo explícito nas novelas e nos big brother. Do incentivo ao consumo de drogas por autoridades, que defendem sua legalização. De minisséries que insinuam sexo entre pais e filhos. De autor se gabando de ter sido garoto de programa e de ter colocado num palco mãe e filha se masturbando.

Perguntem a esses jovens, se professam alguma religião se a prática da fé rege as relações familiares e nas escolas. Claro que não, salvo honrosas exceções. Porque não foram educados para serem conscientes de suas responsabilidades. Os princípios éticos e humanos básicos sempre foram ensinados pelas igrejas, especialmente a católica, fazendo parte de nossa cultura, estado, pois entrelaçadas, religião e ética. Não se vive por viver. Vive-se para ser útil ao próximo e à sociedade. Então, à medida que declina a influência da religião, somos levados a esse caos, que mina nossa esperança e ensombrece o futuro. “Agrava-se tal situação por deficiência das principais instâncias socializadoras dos valores: família, escola, igrejas. Em seu lugar impera a mídia, que a desestrutura. A desagregação da família, com a crescente crise da figura do pai, impede uma socialização estável e sólida dos valores”, salienta o padre Libânio.

Alguns veículos de comunicação não têm cumprido os ditames do Código Brasileiro de Telecomunicações (CTB), que exige prioridade no tratamento de matérias educacionais e de elevado valor artístico, respeitando-se as nossas raízes culturais. Ao contrário, evidencia a violência, o sexo, a pornografia, o progresso material a qualquer custo. trazendo valores que não são compartilhados pela maioria, gerando insegurança e inquietação, porque inexiste referência, com o que as minorias encontram campo fértil para impor seus falsos valores.

É natural que se exija uma auto-regulamentação, sem censura, como proclama as próprias entidades representativas das empresas de comunicação. Para isto existe o Conselho de Comunicação Social (CCS), com representação da sociedade civil, empresas, jornalistas, artistas e escritores. Como acabamos de inaugurar um novo governo, é hora de priorizar a educação de crianças e jovens, respeitando sua moral, sua dimensão espiritual e seus direitos humanos básicos. 

(Jornal Estado de Minas em 24 de janeiro de 2003, Seção Opinião, p. 9)