Luis Felipe Silva Freire, Advogado, Diretor do Instituto de Estudos Empresariais – IEE.
Publicado na Revista Leader, ed. 78, maio/2009 (http://www.revistaleader.com.br/rl_artigos_int.asp?id=190)
Desde o início do ano, muitos são os que insistem em afirmar o declínio das idéias liberais. Muitos são os que defendem uma maior intervenção do Estado na economia. Muitos são os que atribuem a causa da crise ao livre mercado. Mas são esses “muitos” que, sem qualquer conhecimento aprofundado dos valores do liberalismo, querem a expansão da economia, a melhora de suas condições de vida e a diminuição da carga tributária, entre outros desejos liberais.
Estamos vivendo hoje no Brasil um regime em que os defensores da intervenção estatal criaram uma barreira social, intelectual e econômica aos pensadores liberais. Trata-se de uma “resistência orgulhosa”. Criaram um verdadeiro “apartheid liberal”, utilizando como justificativa a necessidade de existência de políticas públicas que visem a corrigir as desigualdades sociais.
Agora, com a crise, colocam cegamente a culpa no livre mercado.
Entretanto, ao contrário do que muitos pensam, o livre mercado não foi o causador da crise. O sistema capitalista é que impulsionou o crescimento econômico iniciado nos anos 90, em escala nunca antes vista.
A crise surgiu em razão do intervencionismo. Na verdade, foi o governo americano que, ao criar benefícios na legislação para a Freddie Mac e a Fannie Mae, permitiu que estas duas entidades formassem a grande bola de neve que estourou na economia mundial.
Não será com intervenção estatal que as políticas públicas serão mais eficazes. O intervencionismo gera corrupção, gera mais cargos públicos para apadrinhados políticos, que também gera maior ineficácia dos serviços públicos, gerando maiores gastos públicos e insatisfação da população para citar apenas a ponta do iceberg.
James D. Gwartney e Richard L. Stroup[1] enumeram sete fontes principais de progresso econômico, entre elas, a Propriedade Privada, a Liberdade de Intercâmbio econômico e o Livre comércio.
Denis Rosenfield, filósofo que palestrou no XXII Fórum da Liberdade afirmou convicto que esta crise será propulsora de um novo ciclo capitalista.
O livre mercado é que fomenta a economia. O crescimento da intervenção estatal neste momento de crise deve ser visto com todas as precauções possíveis, para permitir que futuramente se possa retornar ao livre mercado, em uma concepção mais ampla.
O problema é que existe um abismo muito grande entre o povo e o liberalismo. Seus valores e benefícios devem ser popularizados e difundidos. A batalha deve ser vencida não através da força, mas dos argumentos. Rodrigo Constantino afirma muito sabiamente em seu artigo “A batalha das Idéias” que “Cabe aos defensores da liberdade mostrarem ao mundo quem tem argumentos sólidos, e quem tenta apenas impor suas vontades pela força, por completa impotência intelectual. Somente quando tal distinção estiver mais clara para a maioria, poderemos usufruir de um mundo realmente mais livre. Um mundo onde as boas idéias predominam.”
Os defensores de uma maior intervenção estatal levaram a disputa para o campo da emoção e não dos argumentos. Eles não discutem os meios para chegar à prosperidade. Eles discutem os fins. Porém, os fins (expansão da economia, melhora nas condições de vida, diminuição da carga tributária, etc.) são os mesmos para ambos. O que não é discutido são os meios para se chegar a esse fim. É essa a batalha que os liberais querem vencer. O fim deve ser atingido pelo uso da razão, não da emoção.
É muito fácil prometer empregos, casa, saúde e educação. É o que o povo quer. O que devemos discutir é “como atingir estes objetivos”. Esta é uma batalha em que o vencedor deve ser aquele que tem os melhores argumentos, aquele que tem a razão ao seu lado.
Somos livres para pensar. Somos livres para agir. Somos livres para querer uma sociedade mais justa. Somos livres para optar pela emoção. Somos livres para optar pela razão. Somos livres para acabar com o “apartheid liberal” que hoje existe.
[1] GWARTNEY, James D. STROUP, Richard L. O que todos deveriam saber sobre Economia e Prosperidade: Instituto Liberal, 1998.