RESPONSABILIDADE CIVIL: Torturado busca justiça

Torturado busca justiça

Ana Malta

Está nas mãos da justiça a primeira ação de indenização movida em Minas por um ex-preso político, torturados nos porões do Dops e da 5ª delegacia de polícia, em Belo Horizonte, pelo então tenente do exército, Marcelo Paixão de Araújo. O engenheiro Leovi Antônio Pinto Carísio, 52 anos, enfrentou o passado para detalhar,  mais uma vez os horrores da tortura durante os anos em que este preso por integrar o grupo militante Colina /VAR-Palmares.

 

No corpo, as dores nas costas e a perda dos dentes são as marcas que menos incomodam. É a lembrança da expressão sádica e de satisfação do militar que o atormenta. “Para mim, basta que a justiça reconheça o dano. O dinheiro não é importante”, garante. A ação, que defende uma indenização de R$2,7 milhões ao engenheiro, foi distribuída para a juíza da 20ªVara da Justiça Federal, Ivany Silva da Luz, nela o advogado Geraldo Magela Freire sustenta que a união deve arcar com os prejuízos morais impostos a Leovi pelo regime militar. “Ninguém pode ser punido por um delito de consciência” pontuou.

 

Nos telefonemas que recebeu dos amigos de batalha, a solidariedade”. “Ontem alguns me ligaram. Queriam saber como poderiam conseguir a indenização. Mas para eles o importante também é a  sensação de que, desta forma, nossos torturadores não vão continuar impunes. Alguém deve pagar”, disse. A confissão detalhada do ex-tenente Paixão, publicada na revista Veja, é uma das provas que sustentam as argumentações do advogado. Ele quer mostrar que, no momento em que admitiu a torturador abriu caminho para que as vítimas possam cobrar pelo sofrimento.

 

Tímido diante do assédio da imprensa na portaria da Justiça Federal, Leovi admite que tinha medo de remexer no passado e só concordou em relatar sua história ao perceber que a iniciativa poderia desencadear uma nova discussão sobre os abusos que marcaram a vida dos militantes. “Assim, talvez a impunidade seja revista”, acredita. O advogado Geraldo Freire argumenta que , neste caso, a responsabilidade da União é objetiva. Ele anexou uma série de decisões relacionadas ao dano moral para fortalecer o pedido, além das reportagens sobre o assunto e do relato de Leovi, catalogado no livro – Brasil, Tortura Nunca Mais.